2012/05/26

Será eu ou você que não percebe?



Existia alguma coisa muito estranha. Tinha certeza. Há horas vinha reparando, só não sabia o que era.


Não era o sapato que hoje estava um tanto mais apertado, ou o calor que era mais brando nesses dias escaldantes de Janeiro. Não conseguia descobrir. Pensou com seus botões, parafusos e pulgas.  Alguma coisa na sua alma e espírito o deixava completamente inquieto.


Por volta do meio dia, parou pra respirar, antes de almoçar, e sem querer olhou para o céu. A quanto tempo não olhava pro céu? E para as nuvens? Definiu o primeiro desenho em uma grande nuvem, um elefante que tinha patas de leão e chifres, provavelmente ele era o único que conseguiria discernir que aquele borrão branco de “algodão” tinha contornos de elefante-leão com chifres. Instantes depois percebeu o que estava fora do normal, claro, como não tinha reparado antes. Só pra confirmar concentrou o seu olhar na copa da primeira árvore, que não era tão frondosa, mas mesmo com suas poucas folhas lhe serviu para confirmar sua hipótese.


 - Meu Deus, como aconteceu isso?


Parou um rapazinho que estava passando e perguntou:


- Qual é a mesma cor lá do céu menino?


- E tio, ta muito doido ‘hein’!! Bebeu foi? Nem lembra mais que o céu é azul?


Inconformado com a resposta oferecida pelo menino que já se afastava, pois o que tinha perguntado não havia relação nenhuma com a resposta, resolveu perguntar a uma mulher que vinha no sentido contrário, dessa vez tentando elaborar de forma melhor sua questão:


- Senhorita, pode me ajudar por favor? Desculpe o incomodo, mas tu percebeste a cor do céu hoje?


- Sim senhor, azul, como todos os dias, por que Senhor?


- Sim senhorita, é que se não me engano, ontem essa era a cor das folhas das árvores, e as folhas eram da cor do céu?


-Não lhe compreendo Senhor, acho que deve estar com algum problema de visão ou com alguma confusão mental.


- Não queria lhe incomodar, agradeço pela ajuda.


Assim foi imediatamente ao primeiro oftalmologista da Rua 23 que encontrou. Lá explicou o que lhe ocorria. O Dr acreditou que ele sofria de algum tipo de daltonismo e aplicou teste, o primerio foi o de anomaloscópio de Nagel, seguindo pelo lãs de Holmgreen, por fim teste de cores de Ishihara. Seu diagnostico foi rápido e claro.


- O Senhor não sofre de nenhum tipo de discromatopsias, ou seja, o senhor consegue discernir todos os tipos de cores.


- Mas Dr. tenho certeza que alguma coisa está errada. Ontem o céu era da cor das folhas das arvores.


- Então o Sr. está enxergando o céu dessa cor aqui?


- Não Dr. aquela outra ali mais a direita?


- Você está querendo dizer está aqui, o Azul.


- Sim Dr.


- Mas o céu continua Azul meu caro.


- E como o Sr. está  vendo as folhas?


- Nessa primeira cor que me apontou.


- Sim meu caro, este é o verde. Sua percepção das cores está perfeita, o Sr. continuam vendo o céu azul e as folhas verdes.


- Não Dr.!


Exclamou exaltado.


- O que o Sr. está chamando de Azul ontem era verde e o Verde, tenho certeza que era azul. O que eu estou vendo e o Sr. chama de Azul para mim é verde. Tenho certeza que ontem era ao contrário.


- Bom meu amigo, acho que o Sr. deve está com alguma confusão de memória. Aqui o telefone do Dr. Roberto Mejía, grande psiquiatra, e do Dr. José Paes de Lira,  neurologista, acredito que eles podem lhe diagnosticar melhor.


- Obrigado Dr. passar bem!


E foi embora ainda revoltado. Não tinha sentido. Será que estava louco? Eram realmente suas memórias que estavam erradas? Será que suas recordações eram de um céu de outra cor. Será que ele realmente via o céu com as cores que todos viam nas folhas das arvores e as folhas com a cor do céu?  No fundo, azul era só uma convenção para nomear cor que cada um via o céu e mar? Será que agora ele enxergava diferente do que os outros enxergavam?


Sua cabeça cansou-se de tantas perguntas que nunca tinham passado por ela. Não foi almoçar, não voltou ao trabalho. Foi para casa, para seu quarto, sua cama. Certo que depois de várias horas de volta ao sono todos os seus problemas resolver-se-iam e que amanhã acordaria com o céu do jeito que deveria ser.

2012/04/07

Os Orates

Que são os escritores a não ser um bando de loucos?

Uma história nada mais é do que uma loucura criada na mente de um insano, que não foi capaz suficiente de coloca-la em prática em sua própria vida, assim tal doido, representa seus devaneios em papeis ou nos dias de hoje, arquivos e blogs.

Tudo que esses doidos escrevem necessariamente eles vivem, em seus íntimos, nas suas entranhas. Voam, correm mais rápido que o som, não envelhecem, vão e voltam para o futuro, xingam os presidentes, escarnecem da sociedade, amam, lutam contra orcs, desvendam crimes, matam e torturam suas vítimas, sentem prazer e vergonha, tudo isso primeiro neles, depois em seus contos, poesias e livros.

Só tenho dúvida se o ato de escrever é para aliviar ou para aumentar de suas alucinações. Sendo leitor, durantes algumas horas, dias ou dependendo até semanas, você já pensa naquele amontoado de páginas como sendo um amigo seu, companheiro de grandes momentos, então quanto mais esses temerários que mastigam, vomitam e ruminam durantes infinitos instantes suas histórias. Alguns devem coloca-las no mundo físico, em forma de registro, talvez para eterniza-las, talvez para que possam sempre que houver disponibilidade, visitar o tão maravilhoso mundo de suas mentes. Outros simplesmente vão construindo esses fabulosos delírios a cada palavra e linhas escritas. O fabuloso mundo da insensatez vai se criando junto das palavras gravadas à máquina de escrever ou canetas esferográficas em guardanapos. Enquanto outros sentem o alívio de se livrarem de todas as vozes que ficam ecoando em suas mentes, repassando, transferindo, aqueles sussuros que lhes atormentam ao papel, para que esse atormentem a outros.

A ainda uma outra possibilidade, a vontade de compartilhar sua demência com outros desequilibrados como eles, mas na qualidade de passivos. A possibilidade de originar legiões, de criar uma rede de alucinados que desfrutem e saboreiem de seus desatinos.

2012/02/19

A Respeito do Trabalho Colaborativo nas Organizações


A colaboração deve ser motivada pela vontade de contribuir com o bem comum, ou seja, com a comunidade. A contribuição deve ser encarada não só pelo colaborador, mas também por toda a comunidade, de tão ou de maior valor do que a produção de um trabalho, objeto ou serviço final. Sendo o serviço desses o mais valorizado, já que o serviço se dá como o único bem real e individual derivado da construção do conhecimento comum.

As recompensas materiais ou imateriais de uma organização que deseja assumir um sistema de trabalho colaborativo devem ser baseadas não apenas com o quanto um determinado colaborador produziu em código, relatórios ou peças, mas também avaliada com o quanto ele ajudou em produzir o conhecimento que pode tornar possível a produção desses bens, ou que proporcionou ferramentas e mecanismos para a continuidade e melhorias destes.

A qualidade e a quantidade do conhecimento produzida por um colaborador dentro de uma organização qualquer, pode ser encarada assim como a comunidade acadêmica e a comunidade de produção de software livre encaram, por atribuem maior ou menor notoriedade de acordo com sua produção e desenvolvimento dentro dessas comunidades, fazendo a devida distinção aos membros da instituição de acordo com sua colaboração para o sucesso desta.

Esse reconhecimento individual do colaborador é de grande importância num sistema de trabalho colaborativo já que se aplica como segundo motivador para produção do conhecimento e trabalho colaborativo. O colaborador reconhecido é motivado a produzir mais conhecimento que beneficiara mais pessoas e toda a comunidade, o que levará a mias reconhecimento.
O reconhecimento pode ser atribuído por duas instancias principais:

Reconhecimento pela comunidade, através de comentários, discussões, elogios e aderência a colaboração como idéia .
Reconhecimento da instituição através de comentários, destaque da produção e  aplicação do conhecimento.

Assim todo o sistema deve ser encarado como organismo único que tem por objetivo crescimento comum, que beneficia toda a comunidade, não apenas interesses ou indivíduos específicos, pois o desejo de colaborar e contribuir se torna latente em todos os membros da comunidade.


2011/12/19

Foi Real

Se eu contar ninguém vai acreditar, vão com certeza dizer que eu inventei essa história, melhor, que eu parodiei porcamente, mas juro de pés juntos (isso se, somente se, eu realmente estiver “acordado” agora) que aconteceu comigo há poucos instantes.

Estava no escritório ao lado do meu supervisor e mais alguns diretores. De repente avistei pai. Fiquei muito feliz, pois há anos que eu não o via. Porém, depois de algumas horas o clima que era de muita felicidade e euforia, onde eu apresentava a todos o meu tão querido pai, tornou-se uma tempestade pesada e tensa.

Dentro de uma sala de reunião eu começava a brigar sem motivos aparentes com meu pai. Todos estranhavam. Eu dizia em voz alta e gritando: “Você é uma farsa, porque fez isso conosco? Você está morto, eu fui no seu enterro. Por quê”? Ele me disse: “Então se você prefere assim... estou indo embora!” Respondi imediatamente: “ Vai..., toda vez que tu apareces é uma farsa, um engano ou um sonho”. E ele foi embora.

Voltei a trabalhar, com todos os meus diretores me olhando fixamente, aquele clima pesado. Foi então que pensei em tentar explicar à todos, principalmente ao meu supervisor direto. Engraçado, eu não me lembrava o novo do meu supervisor direto, tive que perguntar duas vezes o seu nome, pois havia me fugido da memória completamente, eu não sabia porque, mas não conseguia lembrar do nome do Sanches. Mesmo assim continuei em minha explicação contando que meu pai era uma grande fraude, um impostor, pois não sabia como, mas tinha certeza que há anos ele tinha morrido, eu mesmo tinha comparecido pessoalmente ao seu velório, visto o seu corpo morto, lido seu atestado de óbito onde o médico legista depois de feito uma autópsia atestará que ele havia falecido por hemorragia interna.

Neste instante todos ficaram espantados e me olhavam com uma tristeza, escandalizados, olhares indecifráveis. Pensei: “Mas ele não está vivo, é tão obvil, isso não é uma farsa do meu falecido genitor, eu que estou delirando, isto aqui só pode ser um sonho”. Claro, tinha chegado à conclusão mais lógica, e precisava comunica-la a todos. Tentei avisar a cada um que tudo isso não passava de um sonho. Todos ali eram frutos do meu delírio noturno. Obviamente que ninguém acreditava.

Assim lembrei-me de um filme que tinha assistido há tempo e perguntei a todos: “Como chegamos aqui”? Alguns riam, outros falavam ironicamente – “Andando”. Eu perguntava sobre suas memórias e ninguém me respondia. Resolvi me beliscar para ver se doía e claro que senti dor, me lembrando também que era mito que não sentíamos dor sonhando.

Meu desespero aumentava gradativamente, como iria provar que estava sonhando, se não estava sonhando, eu estava louco. Assim, finalmente me lembrei de um homem. Sim, aquele homem que ninguém conhecia, que ninguém sabia o seu nome, mas que sempre estava sentado a direita com uma gravata com bolinhas vermelhas.

- Como é seu nome? Me responda? Não vai me responder? Isso porque você não existe, você é fruto do sonho, você não existe, eu berrava esbravejante contra o homem. Mudo, calado, ao invés de me responder começou a andar pra cima de mim, e todos começavam ir para cima de mim, e eu cai. Fechei os olhos. Acordei.

Não me lembro muito bem os fatos decorrentes depois disso, mas sei que estava andando por algum lugar comecei a pensar comigo: “Que coisa maluca, se eu sabia que estava sonhando, naquela hora como eu posso saber que não estou sonhando agora?” Olhei para o lado e vi um homem de gravata com bolinhas vermelhas. Nesse instante passaram um grupo de pessoas entre minha visão e o rapaz da gravata. Quando o grupo passou o rapaz estava na minha frente, como se tivesse se teletransportado, eu pensei: “Fudeo, ou eu estou louco, ou eu estou sonhando novamente. Se isto é um sonho, estou em looping e não acordarei nunca... Jamais voltarei à ‘realidade’, se é que existe a realidade, se é que existe um momento que não estamos sonhando”.

Finalmente eu acordei. Encontrei com meu irmão no corredor de casa. Com grande emoção comecei a relatar toda essa história, afirmando que estava morrendo de medo de não saber mais a realidade e de nunca acordar. Meu irmão andava comigo pelo corredor, com grande paciência ouvia meus relatos e tecia comentários sobre meus tão estanho sonho. Assim corria nosso dialogo, e num instante de quando raciocinava sobre um dos comentários do meu irmão olho para o lado e vejo uma moça de vestido longo e largo branco, um traje parecido aos dado aos internado em manicômios, suja de inteiramente sangue olhando pra mim com a pele de aspecto de decomposição de dias, cinza, olhos branco opacos sem brilho algum. Deseperadamente me passa me corre na mente: “Eu estou sonhando de novo, não é possível” E grito com toda minha força: “ ACORDA LEANDRO, ACORDA”.

Fui ouvindo uma voz como de alguém com deficiência mental me chamando, pedindo para eu acordar. Era eu mesmo, minha voz não saia projetava direito, saia com dificuldade, melhorando a cada momento que ia acordando, acordando, até acordar, esperando que um despertar finalmente para a “realidade”.

Minha mãe gritou: “Leandro você está tudo bem com você?” É claro que não estava, meu corpo estava fraco e ainda está tremendo. Meu coração disparado. Me levantei imediatamente, acendi a luz, olhei nos detalhes da casa, esperando saber se realmente estava em casa. Então fui falar com ela. Contei tudo que acabo de contar, mas durante a conversa eu ainda tinha dúvida se estava acordado. Como a física onde estava vivendo era realmente complexa e precisa, não surgia nenhum zumbi pela janela, e minha mãe contava que isso já tinha acontecido com ela, eu senti realmente que estou “acordado”.

Depois de conversar com minha mãe resolvi ligar a TV e o notebook, para ver o mundo, para não ficar com os meus pensamentos sozinhos, para ver as coisas mais complexas e detalhista, para ter certeza que é a “realidade”, seja lá o que significar essa palavra.

Lembrei do totem, tentei colocar uma moeda em pé, e ela, caiu, para meu alivio, fiz mais um teste , tentei jogá-la e ver se caia na outra face que eu não estava vendo, a coroa, e ela caiu na coroa, joguei novamente, agora caiu na cara. A moeda caia, mostrava as duas faces. Realmente eu não estou sonhando. Então por fim, resolvi relatar essa história, e se eu realmente estiver acordado você vai poder lê-la.

Agora me ponho a pensar na velha e manjada pergunta. Quando eu realmente estou acordado? A pequena diferença é que aqui não acontecem coisas estranhas, a física é muito mais certa e detalhista, mas as diferenças sessam por ai.

Eu não tinha te dito que você não iria acreditar que isso aconteceu comigo. Eu sei, ate eu, lendo esse relato, acho que parece que uma historia retirada de um insight de Inception, com uma pequena pitada de Matrix. Mas te afirmo novamente, aconteceu comigo, foi “real”.

2011/05/23

Introdução - Pág. 2

Na torre norte do Centro de Pesquisa Tecnológicas das Américas Unidas se desenrolava uma pequena discussão. Era raro reuniões presencias, ainda mais por essas horas da noite, porem a maioria dos envolvidos viviam espalhados por toda parte da aldeia, desde as Oceanias as Áfricas, e de qualquer forma seria impossível conciliar os horários de todos, as altas horas da madrugada tinham grande valia. A reunião presencial tinha o seu porque, e os poucos envolvidos sabiam que de forma alguma o que era discutido poderia se quer ser mencionado na rede.

Naquela pequena sala unanimemente era decidido o futuro de Gabriel, da sua pesquisa e de todas as controversas implicações que essas poderiam causar. O que era certo é que ela tinha que parar, aqueles indivíduos já haviam concluído isso. A discussão agora era como fazê-lo.

2011/05/22

Introdução - Pág. 1

Nada o deixava mais irritado pela manhã do que descobrir que sua goma de limpeza bocal acabara. Isso que pela tarde do dia anterior, sua agenda tinha despertado duas vezes avisando sobre lista de sugestão de compras, mas seus pensamentos estavam tão presos aos acontecimentos em curso, que automaticamente mandou sinais para adiamento do agendamento de compras, mesmo ele sabendo que a lista sempre era completa e que bastava simplesmente sinalizar um aceite que antes de chegar ao lar a despensa, incluindo a sua tão preciosa goma de limpeza bocal, estaria cheia. A muito contragosto pegou um daqueles aparelhos jurássicos e agressivos que sua esposa saudosista adorava. Aquele creme branco cheirando a uma horrivel química ia espumando pela sua boca, enquanto as cerdas esfregavam os seus dentes e machucavam sua gengiva. A pelo menos uns 90 anos não usava aquela maldita escova, mas sem goma, e precisando estar em perfeitas condições para o dia, não podia sair com a sua boca com o odor da manhã.

Sua esposa ainda dormia, e parecia que iria dormir muito ainda, desfrutava daquele sono dos justos, calmo, e profundo, que só as crianças tinham naturalmente, ou claro, também eram proporcionadas pelas três pílulas psicossomáticas, assim qualquer adulto de 300 anos poderia desfrutar. Ele ficava tranqüilo, ela desenvolvia suas pesquisas no laboratório do lar, então podia dormir até a hora que acabasse o efeito dos químicos.

Ultimamente preferia encontra-la assim, dormindo, em paz. Ela vinha se recusando a participar dos seus fóruns de decisões da aldeia local, não usava mais o seu óculo comunicador, dizia que queria ser humana de novo, “menos maquina”, colecionando aqueles artefatos obsoletos, relógios, papel, quadros e outras esquisitices que ninguém mais usava. Outro dia tinha encomendado um óculo com representação de teclados qwerty para se conectar. Dizia que não queria mais nenhum óculo lendo os seus pensamentos, e que sentia saudades do tempo que não precisava criptografias para pensar.

Esse comportamento vinha assustando-o. Ela queria se alienar da informação e da sociedade. Estava tomando os passos clássicos para o fim. Pelo menos os químicos deixavam-na mais calma. Ele se lembrava de um artigo que deram centenas de créditos ao pesquisador que não se recordava o nome, e nem tinha vontade de procurar, mas que ele bem se lembrava do titulo “A crise dos imortais, e a volta a mortalidade”. Esperava que isso nunca acontecesse a Sarai e que ela nunca desistisse das reposições de troncos.

Mas hoje, sua mente estava muito cheia para refletir mais sobre a crise de sua esposa, precisava logo se arrumar para chegar ao portal antes das 8h. Precisava estar no centro de pesquisa das Américas Unidas antes das 8h15min. Ele sabia que pelas 8h o portal de residentes das moradias das aldeias locais das Oceanias Orientais sempre estavam com filas enormes. Muitos pesquisadores de médios créditos tinham escolhido seus lares nas Oceanias ultimamente, o que sobrecarregou os portais daqueles lados. O novo portal sendo instalado ainda demoraria dois anos para ser terminado, e por isso todo dia pelas Oito enfrentava aquela fila horrível. Bem, hoje não poderia perder minutos preciosos nas filas dos portais.

2011/05/07

O Discurso

Olhou em voltar. Inspirou profundamente preenchendo completamente os seus pulmões. Expirou lentamente como que expelindo todas as tensões, medos e duvidas. Apertou cada lado da tribuna com suas mãos para aliviar as energias dos seus nervos, articulações e músculos. Respirou como se fosse o suspiro mais importante e sua voz começou a se projetar inicialmente com tranqüilas palavras:

- Todo homem necessita de uma razão pela qual respirar. Uma idéia que faça acordar todo dia pela manhã. Um guia que leve pro trabalho, que o leve para escola, para igreja, que o leve para guerra!

Só se ouvia a sua voz e a respiração daquela multidão compenetrada naquele homem que os falara. A sua voz tranqüila trazia uma paz que acalmava toda aquela platéia alvoroçada.

- A alguns anos atrás eu encontrei a minha razão para viver. Um motivo que me faz respirar. Um lema. Você tem um lema? Você cidadão desse país, tem um motivo pelo qual que te faz levantar da sua cama?

Exclamou com voz forte e firme, que fez o coração dos homens se acelerar, a alma tremer o os pensamentos se inquietarem com sua pergunta.

- Alguns homens são escolhidos, privilegiados. Escolhidos para abandonar suas razões e viver por uma razão maior. Privilegiados com o dom de cuidar, lutar e zelar pelo bem maior, o bem de todos, a felicidade do seu povo. Eu sou um escolhido. Eu sou um homem privilegiado. Escolhido pelo meu povo. Privilegiado com a responsabilidade de guardar e zelar pela minha pátria. “Viver e lutar pelo meu povo” esse é meu lema.

Essa última sentença foi declamada. Foi recitada. Em alto e emocionante tom.

- É isso que estamos fazendo. Esse país que estamos construindo, eu e vocês meus companheiros. Construindo com suor, lagrimas e sangue. Para que nossos filhos tenham uma vida muito mais feliz e melhor do que temos hoje.

-Cada homem desse país recebeu hoje um chamado, um privilégio. O mesmo chamado que eu recebi. Uma razão muito maior da qual vocês vivem hoje.

O povo já aclamava o líder e aplaudia com grande euforia.

- Foi declarada guerra ao eixo-mulçulmano-socialista e seus países associados nas Américas, quem vem ameaçando destruir todas as conquistas e idéias que construímos para nosso país. Assim quando cada um de nós estivermos na batalha, lembre-se que não estamos lutando por nossas vidas e de nossas famílias e sim por um ideal de todo nosso país, e pela nossa razão que fomos privilegiados de ter que é: “Viver e lutar pelo meu povo”.

Assim terminou com forma profética e quase religiosa o seu pequeno e histórico discurso, que foi ovacionado por todo o povo que estava naquela praça e por todo o país que assistia ao vivo suas palavras.

2011/02/28

A Terra da Precipitação

Um mar multicor, com predominância de pontinhos pretos. Assim ele viu , do 16º andar do edifício Barão de Serro Azul, a calçada da Avenida Paulista. Apenas de vislumbrar as formiguinhas cobertas com seus guarda chuvas lá em baixo, uma agonia torturante tomara-lhe a alma, calculando no que ainda lhe esperava.

A tempos presumia a existência de uma conspiração celestial, comandada por São Pedro, que insistia sarcasticamente liberar os ventos, trovoadas, as comportas de águas dos céus em toda essa semana justamente as voltas das quatro e meia da tarde, com a intencionalidade obvia de adornar minha volta ao lar com barro e caos!

A Terra da Garoa tinha esse apelido não por menos, era um indicativo que esta era preparada apenas para a rala e fria garoa, não para tormentas, tempestades e essas chuvas torrenciais que desabaram pela semana, e se assim fosse seria chamada de Terra da Precipitação.

A vista de algumas gotas, tudo tornava-se caos. Os bueiros enchiam, os pontos de ônibus lotavam, cada lotação tinha sua capacidade preenchida muito além do máximo suportado, expurgando excessos pelo ladrão, as buzinas berravam desesperadamente, numa externação do desespero dos motoristas, presos e imaginando as centenas de quilômetros andando metros por hora, que ainda enfrentariam por longas horas a frente.

Os riachos escapam de suas margens, os rios enchem e enxurradas invadem casa, bloqueiam avenidas, inundam carros. Aflição é estampada nos rostos, nas janelas, nas filas intermináveis.

Sem a chuva, em uma hora estaria no conforto do seu lar, e antes das sete debaixo do seu confortável edredom, mas agora com essa traquinagem de São Pedro, apostava que antes das nove não estaria em casa. Sim todo o crédito desse caos vai a Pedrão, que encheu de águas a Terra da Garoa.

2011/01/24

Sobre a Inexistência do Presente e as Constantes Variáveis

Procurei encontrar o exato momento em que o presente se dá. O ponto correto, o ponto fixo na linha do tempo, isso se o tempo pode ser representado em uma linha, onde a esquerda temos o passado e a direita temos o futuro e num traçado tênue e preciso temos o presente. Não achei.

A cada momento que tentei representar o presente, ele já tinha passado, e/ou ainda estava por vir. Acontece que toda vez que colocava um ponto, um traço no presente, representava ele em uma foto, ele já era uma lembrança do passado. Meu próprio pensamento e as coisas que eu acabei de falar são parte de um passado, que não é muito diferente dos de bilhões de anos atrás.

Não se representa o tempo, ele passa, é um processo não um esquema, é uma esteira rolante não uma reta de uma régua. Esse é o problema, ele está sempre mudando, sempre continuo, em processo, veloz e perpetuo.

Assim consegui o primeiro postulado. Simples. “O presente não existe”

Sim amigo, sei que já sabia, mas as vezes é ótimo reinventar a roda, constatar por si mesmo as verdades mais obvias que de tão comuns passam despercebidas da nossa consciência, e da sabedoria da grande massa populacional que não se inquieta com os pensamentos mais primitivos da ontologia.

O presente é uma convenção para que nossas mentes tacanhas não entrem em colapso (como tantas outras convenções), para que possamos dividir nossas vidas em estados, e pensar que temos o controle do que ocorre, que temos um tempo em que s coisas acontecem, e que estamos nesse exato momento neles, vivendo e desfrutando, não que estamos apenas em um processo, conjunção de um passado recente e um futuro por vir.

Ainda pensando no processo, em como o tempo simplesmente... passa, em como tudo está em mudança, constante movimento, os átomos e em movimento , o caos em convergência, o universo em expansão, e que tudo muda, mesmo o sol que todo dia nasce ou a gravidade que nos prende a Terra, tudo são primícias temporárias.

As coisas que agora são, não serão para o todo. O que é pode não ser mais, isso é claro. Tudo é variável, até o que nós colocamos como constante. Colocamos assim para facilitar nos nossos cálculos e que para que a humanidade possa ir a lua. Mais uma constante, algo fixo, é nada mais do que uma variável que ainda não se alterou. Ela é constante porque o meio ainda é o mesmo, a dimensão ou talvez em um dos últimos supostos , porque o tempo ainda não passou suficientemente.

Assim nasce o segundo postulado. “Toda constante tende a variar”

Só a titulo de exemplo, pensemos na velocidade da luz, uma constante universalmente conhecida. Essa só é constante no seu meio, ou seja no vácuo, se submetida em outro meio mesmo sendo constante essa vária. E mesmo pensando que ela viaje a eternidade no vácuo, o vácuo que também pode ser considerada uma constante no dado exemplo, tende a se modificar, o que modificaria a velocidade constante da luz.

Agora é só pensar, “e nós, não temos um presente e nem somos constantes, qual será nossa dinâmica e como encaramos esse processo”?

2011/01/23

Lembranças

Havia um telão, com Chico Buarque tocando no fundo, colocaram uma daquelas músicas em que o Chico compõe no feminino, ele sempre ficou intrigado em como o Chico conseguia uma profundidade e um sentimento tão feminino sendo ele homem, isso o espantava, por isso escolheram aquela musica para acompanhar as fotos e pequenos vídeos que tinha deixado. Lembraram que anos a trás ele tinha feito esse tipo de vídeo vida, mas para homenagens diferentes como casamentos e aniversários de anos de casamento.

Todas as fotos que passavam eram fotos que tinha encontrado em seu notebook, provavelmente as que ele gostava mais, mas ao meio colocaram algumas encontradas em suas redes sociais, abandonas á meses, parecia que nesses últimos meses tinha desistido do mundo virtual mesmo, seria isso um sinal? Alguns comentavam, já que ele passava horas em seu comunicador instantâneo, e nunca mais entrou, essas foram algumas teorias, os mais sóbrios contra argumentavam que ele tinha parado pois tinha se dedicado em terminar os seus trabalhos, que agora ficariam na metade, o seu livro e o sua tese.

Depois pegaram um daqueles textos ilógicos com nomes enormes que deixara em seu blog, e leram, alguns riram, outros não entenderam nada, isso acontecia sempre, muitas vezes não entendiam, mas os mais sagazes e mais próximos tinham uma compreensão do que queria dizer, ou apenas do que não queria dizer.

Por fim alguém cantou aquela musica que tinha escrito na oitava serie. Era sua predileta, talvez a obra prima, dizia ele que ainda escreveria sua obra prima, muitas vezes perseguiu, passou horas em claro tentando escrever, mas sempre qndo terminava cantava a si mesmo, lendo os guardanapos de papel rabiscado com sua em fim “obra prima”, ai a comparava as métricas dos Caetanos, Chicos, Gilbertos, Lirinhas, Zecas e Fernados, e via que ainda faltava muito para sua obra prima fosse exprimida.

Estavam presentes os seus amigos, seus familiares, seus colegas. Celebrando aquele que não estava junto deles.